Protocolo Spikes: Como comunicar má notícia?
DEZEMBRO 10, 2021 | ELAINE MAIOLLI | BLOG
Diagnosticado doença degenerativa ou terminal, o médico se vê numa situação desconfortável, como dar uma má notícia? O médico foi treinado na faculdade para curar pacientes, lidar com diagnóstico que levará o paciente a óbito sem possiblidade de tratamento curável é o maior dilema para o profissional. Antes mesmo de pensar de transmitir a notícia ao paciente e familiares, o profissional precisa lidar com seus próprios receios, medos e ansiedade, quando se trata de terminalidade da vida.
Pensando nessa situação, o protocolo Spikes foi elaborado a fim de direcionar, orientar, sistematizar formas mais adequadas para comunicar más notícias.
O profissional da saúde precisa ter em mente duas diretrizes na relação médico-paciente, primeiramente, o dever informacional, e segundo, seu dever de compromisso e sigilo que está condicionado apenas ao paciente, não se estendendo a familiares.
O protocolo SPIKES é composto de 6 passos, senão vejamos:
1 – Setting up: preparar-se para a conversa
É necessário que o profissional se prepare para a conversa, olhe para dentro de si, nesse momento, perceba os seus sentimentos com relação a notícia que está prestes informar. Procure estar sereno, calmo, receptivo a emoções que poderá ver naquele momento. No momento da conversa que terá com o paciente, solicite a presença de um membro familiar, isso ajudará na compreensão do que será informado e trará mais segurança ao paciente ter alguém próximo naquele momento. Nesse primeiro passo, deverá ser pensado pelo profissional, a escolha do espaço físico no qual será realizada a conversa, deve procurar um lugar calmo, tranquilo e reservado.
2 – Perception: Percebendo o paciente
Observe a receptividade e o nível de consciência do paciente. Faça perguntas para entender até onde o paciente já possui conhecimento de seu diagnóstico e prognóstico.
3 – Invitation: Convidando para o diálogo
Consiste em identificar o limite do paciente, ou seja, até onde o paciente deseja saber, por vezes, pode acontecer de o paciente não querer ter plena ciência do seu estado clínico, optando pelo familiar juntamente com o médico decidir o tratamento que deverá aplicado. Caso ocorra essa situação, o profissional da saúde deve deixar claro ao paciente que se mantém disponível para conversar a qualquer momento.
4 – Knowledge: Transmitindo informações
Dar uma notícia ruim, sempre é muito difícil, talvez começar o diálogo informando que infelizmente não traz boas notícias, apesar de impactante, pode diminuir o choque da transmissão da notícia. Seja cauteloso, procure utilizar frases curtas, observe a reação do paciente, pergunte como se sente ou se está compreendendo as informações prestadas. Jamais diga: “Não há nada mais o que fazer”, porque transmite “desistência”, no lugar, fale que teremos que mudar o tratamento para controlar sintomas, por exemplo, nesse momento é preciso demonstrar atenção, cuidado, empatia, que juntos será realizado tudo o que estiver ao alcance para controlar sintomas e amenizar dor.
5 – Emotions: Expressando emoções
Respeite e aguarde o momento de emoção do paciente e/ou familiar. Pode ser que o paciente chore, ou fique em silêncio, ou até mesmo em choque, é preciso de tempo para assimilar, compreender a notícia informada. Demonstre compreensão e compaixão na emoção expressada.
6 – Strategy and Summary: Resumindo e organizando estratégias
Nesse momento, demonstrar segurança e um caminho a seguir é fundamental, é preciso reduzir o nível de ansiedade do paciente.
Demonstrar que possui um plano, seja curativo ou paliativo ao paciente é trazer um norte, um rumo naquela situação que parece perdida.
Qual o objetivo do protocolo Spikes?
O objetivo dos passos descritos no protocolo SPIKE é justamente (i) assegurar a compreensão do paciente e familiares; (ii) a informação deve ser prestada conforme receptividade do ouvinte, aqui o profissional da saúde deverá ter a sensibilidade de o quanto será suportado pelo paciente e/ou familiar; (iii) empatia e acolhimento, diante da reação do paciente e/ou familiar; e por fim, não menos importante (iv) demonstrar ao paciente que não está sozinho nessa jornada, que não está abandonado, que é possível realizar um tratamento curativo ou paliativo.
Portanto, digo que na habilidade de comunicação, transmitir um diagnóstico, é necessário humanização, sensibilidade e empatia com o próximo, no momento da transmissão da má notícia é preciso que o profissional mantenha a calma, observe a reação do paciente e familiares, demonstrando compreensão a emoção expressada naquele momento, e principalmente, verificar se o paciente assimilou de forma correta todo esclarecimento prestado referente ao seu quadro clínico.
Referências:
CRUZ, Carolina de Oliveira; RIERA, Rachel. Comunicando más notícias: O protocolo SPIKES. Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2016/08/1365/rdt_v21n3_106-108.pdf. Acesso: 09/12/2021.